Parte I : em relação à imprensa especializada
Nesses dias, fiquei surpreso ao constatar que algumas pessoas ainda utilizam o termo americanóide "outside" para designar algo que ouviram e que não puderam entender e/ou classificar na música de alguns artistas.
Ao ler algumas coberturas de eventos nos quais toquei recentemente - que têm de ser cada vez mais "super": super resumidas e superficiais, seguindo a máxima "time is money" - vi o infeliz termo destacado em meio à tentativa de descrição.
Acho que deve funcionar assim: "Hum, não saquei o que ele tocou agora... Não é nenhum exerciciozinho que eu conheço, nenhuma escala ou arpejo... Bom, então é OUTSIDE! Pronto."
E isso quando o cidadão que assina a matéria realmente está presente no show! Certa vez, recebi um telefonema para descrever um show que já havia rolado porque o jornalista não pôde comparecer. Em outra oportunidade, li uma cobertura assinada por um cara que simplesmente não estava no show...
A nossa imprensa especializada ainda tolera alguns meninos que se dizem jornalistas - talvez pela mão-de-obra barata ou mesmo grátis - e que tentam definir a arte de alguns músicos com rótulos tão vazios quanto os seus próprios conhecimentos sobre música, o que chega a provocar em mim uma certa vergonha alheia por várias vezes.
Não seria muito mais interessante, já que é para cobrir um evento musical, realmente ouvir a música e se aprofundar na experiência, pra depois levar ao leitor imagens mais interessantes, ricas ou criativas? Acredito que seria, com certeza. Isso instigaria o público a ouvir a música, seria um atrativo a mais. Mas a pressa não deixa as pessoas se aprofundarem em mais nada; o mundo globalizado exige respostas rápidas e eficiência total.
Mas, eu pergunto, desde quando "responder rápido" e "ser eficiente" indica inteligência, profundidade ou qualquer outra coisa que se aproxime desses valores mais nobres?
Parte II: em relação aos músicos
Os próprios músicos são responsáveis pela difusão de termos inúteis como esse, já que vários ainda se utilizam disso, principalmente em aulas e workshops.
Em 1994, e vai aqui um 'mea culpa', fiz duas vídeo-aulas que foram lançadas por uma editora chamada Hélio Cortez Music - que, só pra deixar registrado, não paga pelos produtos elaborados por mim e publicados por ela, como as vídeo-aulas e um livro chamado "150 frases de Jazz & Fusion" -, e uma delas chamava-se "Inside e Outside". Só depois de alguns anos fui perceber que chamar uma sobreposição de acordes (ou uma simples modulação) de "outside" significa insistir num erro.
As coisas são muito mais simples...
Por exemplo: se um trecho de uma música fica com o baixo em F e eu toco em E maior e Bm, isso quer dizer que eu simplesmente toquei em E maior e Bm sobre F. Apenas isso! Ou, ainda, se um trecho de uma música está em um tom e eu toco uma melodia meio tom acima, apenas toquei meio tom acima!
É assim que eu explico pra quem me pergunta. E acho muito mais honesto do que procurar termos pomposos e/ou americanóides. E quando eu não sei o que fiz, também digo claramente "Não sei o que eu fiz!". Sejamos honestos e deixemos cada vez mais a música falar por si.
Chamar situações como os exemplos acima de "outside", para mim, soa tão inteligente quanto chamá-los de "delícia escandinava" ou de "Totó". Não há o menor sentido!
Parte III: uma tentiva de conclusão
Tentar colocar a expressão artística dentro da caixinha esmagadora da língua escrita ou falada já é algo bem complicado, ao meu ver; tentar explicar algum evento artístico com um simples rótulo, então, é ridículo!
"Outside", para mim, é o lixo que vem sendo veiculado e despejado sem trégua pela mídia na cabeça da maioria dos cidadãos do mundo. Isso sim é "out"!!!
Aliás, nunca se tocou tanto "outside" quanto se toca hoje nas tvs, nas rádios, nos iPods, nos carros (no trânsito a gente ouve cada coisa vinda dos carros mais próximos que chega a ser preocupante) e na internet.
Essa boçalidade toda deveria ser "out" e o artista criativo deveria ser "in", mas este está cada vez mais "out" aos olhos dos zumbis que consomem qualquer coisa sem o mínimo questionamento.
Não engrosso mais a fileira dos que usam termos como esse; estou "fora" do tal "outside".
Michel Leme
9 comentários:
Valeu pelo elogio ao blog Michel !
Eu concordo com tudo que vc disse no texto. O que tem de picaretas no meio musical é uma grandeza... Jornalistas, emissoras de rádio e televisão. O pop predomina, a fácil digestão e audição.
Não sei se estou chato ou sei lá o que, mas parece que a música agora se resume ao tal de Indie Rock e ao eletrônico.
Escutar algo diferente,fazer as pessoas ampliarem o espectro musical, dá calafrios em certas emissoras de rádio e tv.
è isso aí...
Tetarei comparecer no TETA !
Abraço
Valeu, Dida!
Fiquemos em contato, abração!
Michel
Só dá para concordar com vc Michel, acho que o seria mais facil entender que a sua musica por exemplo o sentimento é muito masi importante que tentar impressionar as pessoas com escalas "fora do tom". Considero seus riffs e notas moentos de inspiração para tod mundo que ouve sua música. Um grande abraço !
Obrigado por postar, Jose!
O caminho é esse, cortar a frescura ao máximo.
Abração,
Michel
SEMPRE UTILIZEI ESSE TERMO QUANDO ESTAVA NUMA RODA DE AMIGOS,MAS AGORA ABRI MEUS OLHOS ,SÓ FALAVA QUE ERA OUTSIDE PORQUE SOAVA BEM AOS OUVIDOS DOS OUTROS,VALEU MICHEL QUE LIÇÃO ,DENTRO DE MIM SABIA QUE ERA MAIS OU MENOS ASSIM,SÓ QUE NÃO CONSEGUIA EXPRESSAR ESTE CONCEITO,UM ABRAÇO.
Ta aí um termo que eu não tinha ouvido falar, talvez tenha levado sorte. hehehe...
Mas como é comum qualquer coisa que virá moda, muito facilmente perde o sentido ao qual originalmente fora criado.
Concordo totalmente com você Michel, esses termos estupidos se deve a nossa "americanização". Agora imagene se os termos virarem Chinesianos!!!
Artur
Curitiba/PR
Obrigado "Anônimo" e Artur.
Fiquemos em contato, mais matérias virão.
Abração,
Michel
É isso que penso, a midia tem descarregado em cima de nós pobres mortais tudo que eles julgam bom, mas não tem se preocupado com a qualidade da informação. Hoje temos vivido baseado em um pais extrangeiro, usando termos que não são nossos, e o pior abrimos o peito e gritamos com todas força...
É isso michel, você mostra seriedade e sinceridade no que se propoe a fazer, e são pessoas assim que temos que adimirar, porque muito mais que um telento, temos que ser honesto com o proximo.
Muito Obrigado!!!
Cleiton Souza
Valeu, Cleiton!
Abração e toquemos mais!
Michel
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