Na quinta-feira, 01 de Novembro, rolaram dois sons: Trio com Deco e Digão na Companhia da Música; e um quarteto com Daniel D'Alcântara, Thiago Alves e Alex Buck no Teta Jazz Bar. Ambos foram muito intensos, ricos e divertidos.
Na Cia. da Música rolaram alguns temas novos meus e algumas músicas feitas na hora. No Teta, tocamos, exclusivamente, standarts de jazz.
Não vejo diferença entre as duas coisas, tanto faz tocar músicas minhas ou standarts. Fazer música é o objetivo. Por isso quero falar sobre a importância de começar a desenvolver o repertório: tanto para desenvolver a improvisação quanto a composição.
Tem uma rapaziada que começa a tocar e logo vem com o papo "estou fazendo meu som, não curto standarts". Nada contra tocar músicas próprias, acho que é esse um dos objetivos. Mas só acho isso válido a partir do momento em que exista uma substância nisso, ou que, ao menos, signifique algo!
A preguiça de tirar músicas ou o fato de não saber dos benefícios de começar a ter um repertório, faz com que aberrações surjam.
O que quero dizer é que a pressa de gravar e aparecer, "construir uma carreira", etc., faz com que essa turma saia por aí gravando ou tocando sons que, no mínimo, não têm o que eu chamaria de base. E o que seria essa base? Melodias e harmonias boas, e solos tão bons e musicais quanto.
Aprender composição tem a ver com conhecer o que pudermos do que já existe por aí, além de praticar - tocando e escrevendo. Improvisar bem também tem tudo a ver com repertório: são inúmeras situações harmônicas, formas, ritmos e melodias que, se vivenciarmos e assimilarmos, só nos trarão benefícios.
E, para mim, tudo isso tem a ver com tocar! Tocando é que surgem as composições, tocando (e gravando, se possível) é que você sente o que precisa melhorar, etc. E tocar sem limite de estilos - limites do tipo "eu só toco jazz" ou "eu só toco som brazuca (sic)", para mim, não passam de bravatas da adolescência. Os caras mais musicais com quem já toquei têm um repertório impressionante, já viveram inúmeras situações musicais. A experiência vale ouro!
Em se tratando de repertório, considero-me um ignorante, com certeza! Existem muitas e muitas músicas maravilhosas para se aprender e vivo correndo atrás delas. Mas digo, com segurança: quem sabe uma certa quantidade de músicas, compõe e toca de uma maneira; quem sabe essa certa quantidade de músicas multiplicada por 100, compõe e toca de oooooutra maneira...
Além disso, a música lança desafios novos a cada dia. Um dos mais clássicos é o cara tocar um pouquinho, descobrir umas coisas aqui e ali - ou aprender umas regrinhas - e logo ficar arrogante, "se achando". Aí é só esperar um belo chute nos ovos que a música (ou a vida) vai aplicar. É só esperar!
Para isto não acontecer, cabe a nós a sincera auto-análise e ficar de olho nos ataques do ego.
Torço pra que a moçada "baixe a bola", busque aprender muitas músicas e a fazer música sobre as várias situações que encontrarão no vastíssimo universo do repertório.
Depois, o assunto "meu som" surge naturalmente - mas sem os recalques.
Abraço,
Michel
3 comentários:
Michel
você continua sendo o C A R A !
é meu escritor favorito,
já comentei com Bento Araújo, tenho a impressão que conheço vocês há pelo menos uns trinta anos....eu tenho ouvido muita gente nova tocando, e alguns partem para isso mesmo querendo ter uma carreira, mas fica sem base nehuma.concordo plenamente com que você escreveu.
abraços
Ernesto "boquiaberto" Paulo
És mui generoso, meu caro Ernesto!
Agradeço por ler o blog e por postar.
Acredito em plantar coisas boas, sempre! Se alguém aproveitar, acho ótimo; senão, também está ótimo - é a opção de cada um.
Escrevo aqui no blog muito despretensiosamente, mas baseado no que faço e no que vejo por aí.
E o que vejo é muita gente mordendo com muito gosto a isca da ambição, e sem medidas!
Cabe citar a frase dita pelo personagem de Al Pacino, que era o próprio diabo, no final do filme 'Advogado do Diabo': "A ambição é um dos meus pecados prediletos".
Abraço,
Michel
ESSE É MUITO BOM
SOU UM GRANDE ADIMIRADOR
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