quinta-feira, 19 de julho de 2007

União

Sábado passado fiz um curso na EM&T junto aos amigos Edu Ardanuy e Joe Moghrabi. Foi um curso com cinco horas de duração e a idéia principal é unir pessoas que tocam sons bem diferentes e passar o que cada um vem pesquisando no momento para o público participante. Foi muito legal, a moçada fez perguntas boas, e na minha parte toquei algumas composições próprias sozinho e só uns dois ou três moleques ficaram conversando no meio de uma balada... Mas tudo bem, isso é um sintoma da falta de cultura que avassala nosso país. O lance é tocar e espalhar música por aí, um meio de equilibrar um pouco as coisas.

Conversando com o Edu depois do curso - que teve 64 participantes -, percebi que o lance é promover a efetiva união entre os músicos. E isso não é nada utópico. Se eu ficasse numas de "eu toco jazz", nunca teria oportunidade de aprender várias coisas diferentes. Sei de muitos pretensos "jazzistas" que acham que o rock não é música e que até falam isso pra estudantes de música - a gente fica sabendo. Esses caras estão perdendo a oportunidade de fazer quatro coisas: calar, falar de coisas construtivas, aprender com seus semelhantes e cultivar a virtude da humildade.

Convido esses "almofadinhas" inexpressivos que acham que tocam "jazz" a darem uma canjinha com o pessoal "do rock" - as tribos têm que ter rótulos, não é? O grande teste seria: emocione alguém tocando o som que você acha tão primário. Alguém se habilita?

Os pouquíssimos caras que realmente fazem acontecer música tocando jazz ou música brasileira instrumental (e adjacências) são os que mais têm a mente aberta. Não perdem tempo falando mal de ninguém e, se por acaso forem chamados pra tocar com outras 'tribos', vão tocar e vão quebrar tudo - e tudo num clima ótimo, sem estrelismos!

Já os "almofadinhas" não fazem acontecer nada de interessante no dito "jazz" que tentam tocar e, por despeito, ainda ficam fazendo pose de superior pra impressionar alunos - dando o mau exemplo da atitude pedante. E, importante dizer, são os mesmos alunos que eles fazem questão de humilhar - a gente fica sabendo também... O que estes caras estão plantando? Estão afins de defender a graninha do mês se aproveitando da ingenuidade da molecada? Estão querendo se manter através da retórica? Que ilusão.

É hora de tentarmos neutralizar o preconceito, tirar a armadura do ego e trocar mais figurinhas. Temos uma perspectiva estranha nos dias de hoje: cada vez menos lugares pra tocar música e cada vez mais gente com a ilusão de ser "músico formado".

Realmente é hora de juntarmos forças; sem união a coisa não vai pra frente. Ao meu ver, essa união começa com algo muito simples: a disposição de realmente ouvir o outro.

Abraços a todos,
Michel

5 comentários:

Ernesto Paulo disse...

Michel
aqui em São Carlos, mas pro final do ano, acontece uma grande apresentação em praça publica, é um programa do "Contribuintes da Cultura" sobre "Choro", se não me engano chama-se chorando na praça, ou algo assim, o bom disso tudo é que são músicos e grupos daqui, e da região, além dos convidados especiais, como por ex. no ano passado: Yamandu, Pepu Gomes, Baby eo Armandinho(cor dom som) que fecharam as apresentações, na verdade é pra ser "choro" e que acaba tendo de tudo um pouco.....dá pra conciliar Jazz, Choro, MPB, etc....e quem ta assisitndo vibra se emociona, etc. etc....essew programa acontece num domingo as 10 horas e vai até 23 horas ou como diz a Fatima (produtora artistica e idealizadora do projeto contribuinte da cultura) "vai ate acabar"
então, o que vc disse em todo e principalmente na parte: É hora de tentarmos neutralizar o preconceito, tirar.... é fundamental para o músico e principalmente para quem quer ouvir música de boa qualidade.
é por isso que venho "persseguindo" teus passos, por que além de musico, e um excelente musico voce é critico e aberto as mudanças e alterações que nosso universo propoe....
grande abraço
Ernesto - São Carlos
obs.: não sou musico, sou ouvinte e apreciador.

Anônimo disse...

É triste, mas em um país que celebra a mediocridade e a esperteza lesiva como virtude,não é de admirar que a incompetência seja compensada com falácia.
Preenchem o vazio, a falta de substrato, falando palermice pelos
cotovelos, pra iludir os incautos ou inexperientes.
É uma pena, pois o que estão plantando não é nada salutar.
O plantio é livre, a colheita obrigatória!

Michel disse...

Valeu, Ernesto e Aloha!
O lance é falar do problema e apontar possíveis soluções. A solução que proponho no texto é o músico sair de seu casulo e viver a música, tocando e com a mente aberta pra sempre aprender. Acho que o fato de se dispor a ouvir realmente o próximo já é um bom começo. Obrigado por postarem!
Abraço,
Michel

Anônimo disse...

Eu realmente não sei o que é de um músico que não abre a mente e procura tocar mais de um estilo. Sinceramente não entendo essas pessoas. A arte naturalmente leva a abertura, a expansão. Numa dessas não são artistas - e é isso que eu acho.

Muitos músicos reclamam dos bares, e com razão. O que aconteceria se rolasse uma manifestação de um fim de semana sem MÚSICOS pra tocar? Uma boa?

Abração
Marcim

Michel disse...

Essa mobilização seria ótima, Marcim.
O músico tem oportunidades diárias de manifestar sua ética e de ser solidário. Só não acontece isso amplamente porque não é da índole de uns e outros, e aí a corrente se quebra.
Se houvesse ética, por exemplo, antes de tocar em algum trabalho no lugar de um companheiro, o músico deveria consultar porque o seu colega saiu - seja de um bar, de uma escola ou de um grupo - e entrar exigindo, no mínimo, o mesmo que o outro ganhava.
Veja, quando eu saí da banda do Fábio Jr., em 2001 - razões: não tinha shows; eu já havia conhecido muito bem o tipo de trabalho e cansado da atmosfera; e porque eu pedi o dobro do cachê (quatro tabelas de show, com valor fixado pela sensacional OMB), já visando minha saída e o começo de meu trabalho como artista independente -, os músicos da próxima banda entraram ganhando metade do que eu ganhava (ou seja, uma tabela da OMB). Algo vergonhoso... E isso é apenas um exemplo.
Acho que deveria haver uma mobilização, sim! Pra exigir a moralização da OMB, pra exigir cachê mínimo padronizado nos bares, pra exigir um teste de admissão de professores em escolas de música que fosse sério (e não apenas baseado em Quem Indica ou medíocres exibições de diploma), etc., etc., etc.!
Resta ao músico fazer algo.
Mas o músico não se reúne com outro músico, já notou? Os caras nem comem juntos, alguns nem conversam, nem ouvem e nem trocam idéias sobre o trabalho um do outro... Existem raríssimas exceções, mas reina a hipocrisia. O termo "do caralho" é elogio distribuído aos quatro ventos. Só que, por trás, o termo se metamorfoseia em podridão e desejo de morte ao outro...
O ideal seria uma mobilização dessa natureza, com certeza.
Mas cabe a pergunta: quem vai articular? Alguém contratado de uma "major" (corporação)?
Alguém que freqüenta o Multishow ou a MTV? Será que esse movimento não cabe aos independentes?
Fica a pergunta no ar.
Por enquanto, vale o exemplo de cada um.

Abraço,
Michel