domingo, 24 de junho de 2007

Influências (parte II)

Quando eu tinha uns treze anos, ouvi na casa do meu primo Lilo a música "The sign of the southern cross" do disco "Mob Rules" do Black Sabbath.
Fiquei chocado! O riff que entra logo depois da introdução com violões é de um peso descomunal... (gosto até hoje desse som)
Sempre gostei de riffs pesados, para mim é algo indescritivelmente forte e o Tony Iommi domina essa área, realmente.
Passei, desde então, a buscar esse peso na música. Coitados dos meus pais...
Ao domingos, eu ouvia o programa Comando Metal na rádio 97 FM, que era a rádio Rock. Ficava ouvindo de Led Zeppelin a Slayer, de Hendrix a Judas Priest, enfim, tudo o que eu achava que era pesado. E ia assimilando, aprendendo algumas músicas, etc.

Dos 13 aos 18 eu fui o que se pode chamar de metaleiro ortodoxo. Tocava os discos do Iron Maiden inteiros junto (como o "Powerslave" e "Somewhere in Time"), Judas, Sabbath, etc.
Em 1985, ouvi pela primeira vez o Yngwie Malmsteen. Simplesmente esse cara apareceu tocando de um jeito que todos queriam tocar - algo como o que o Eddie Van Halen conseguiu uns 08 anos antes, com outra idéia.
Fiquei louco e passei a tocar o dia inteiro jundo com o disco "Rising Force", quase furando-o. Vale lembrar que, nessa época, o lance era tirar tudo do vinil mesmo (achando os pontos de interesse na pontaria com a agulha) e, as partes mais complicadas, em cassete (para sessões de repetições de trechos quase que insanas).
Logo em seguida, em 1987, vi pela tv, o Chick Corea tocando com o Frank Gambale. Não acreditei também... O cara tocava tão rápido quanto o Malmsteen só que harmonicamente mais rico. Eu também gostava muito do Steve Vai, Paul Gilbert e Greg Howe na época.
Essa fase rockeira foi importante para mim e nunca a reneguei. Importante tecnicamente e importante em termos de desenvolver o ouvido, já que eu aprendia diretamente com os discos.

Tem gente que acha que o jazz é uma música superior e que o rock é lixo. Eu não partilho desta opinião, nem um pouco. Tem porcarias no jazz e no rock, só que eu procuro sintonizar com o melhor de cada som. E fazer música é o lance em qualquer ocasião - seja numa banda de baile, numa banda de rock, num quarteto de jazz, etc. Você faz a música ficar boa, e o "jogo" nunca está ganho. O que quero dizer é: não se iluda achando que o rock é fácil! A música está muito acima do fácil ou difícil... Toque e seja um instrumento da música. O desafio está sempre presente, e sempre junto da inestimável oportunidade de evoluir.

Aos 18 anos (em 1989), eu sabia que, para ser um músico que encara todas, eu teria que estudar harmonia - e sabia que isso aconteceria sabendo um mínimo necessário de teoria e tocando o máximo possível, além de aprender muitas músicas. Só que a preguiça fazia com que eu adiasse essa nova fase ao máximo...

Numa bela noite, fui convidado pra ir à casa de um amigo nosso que havia começado a estudar bateria há um ou dois anos, como hobby mesmo - depois de fazer seus ciquenta anos de idade, se não me engano. Era o Emílio, um cara muito querido que nos deixou poucos anos depois dessa história que contarei.
Bem, chegando lá, vi alguns caras que estudavam com ele no CLAM (onde meu irmão havia estudado um tempo também) e, me lembro como se fosse hoje, que o guitarrista tinha uma Gibson Barney Kessel sunburst com umas cordas em formato retangular lisas (que nunca mais vi por aí).
Logo eles começaram a tocar. O repertório não era nada de extraordinário, eram alguns standarts bem comuns pra mim hoje - mas que eu não fazia a mínima idéia na época. Mas o que mais me impressionou naquela noite é que eles liam cifras e tocavam acordes que eu nunca havia visto! Ou seja, eu tomei um dos primeiros safanões violentíssimos da música; uma voz berrou em minha mente (e com eco!): "Vai estudar, seu moleque ridículo!!!"

Agradeço muitíssimo ao Emílio e aos amigos que estavam lá nessa noite, pelo despertar que eles me proporcionaram.

Nessa época também, eu conheci outro cara que também já nos deixou, o Tuta Bastos. O conheci por intermédio do meu amigo Pierre e do irmão da minha tia Cleusa, o Antonio Carlos. A gente tocava junto com o Laércio (cunhado de minha tia) e eles viviam me falando: "Você tem que conhecer o Tuta!"
Depois de finalmente conhecer o querido Tuta, me lembro que eu chegava com minha guitarra Ibanez com cordas .009 (cheia de adesivos com mulheres semi-nuas) nos bares da Vila Formosa pra dar canja com os caras. E saía tocando com eles vários sambas, bossas, enfim, músicas que eu, às vezes, não conhecia e que tinham acordes que eu não conhecia nem um pouco mesmo.
Só que eu chegava no bar, esperava ser chamado - muito importante salientar isso, porque hoje em dia o costume vem sendo pedir pra dar canja... - e, ao começar a tocar, ia sentindo o clima e tentando me encaixar no contexto. O Tuta tocava violão e cantava muito bem, e o Pierre toca bateria ou percussão (às vezes o Antonio Carlos estava no baixo). Os caras eram malandros pra cacilda tocando...

Depois dos temas, o Tuta mandava o tradicional "Vai, Michel" e eu saía solando. O vocabulário que eu tinha na época era totalmente rock'n'roll, só que eu já havia ouvido algumas poucas coisas de caras como o George Benson, principalmente com o Pierre e com o meu irmão. Na época, assimilei alguma ínfima coisa daquilo e, intuitivamente, ia tentando tocar dentro do swing das músicas e da proposta do som.
Surpreendentemente, os caras gostavam do meu som e me chamavam. E eu, felicíssimo, ia com tudo pra tocar com eles de novo.

(continua)

4 comentários:

Anônimo disse...

Realmente...já ouvi muitas pessoas dizendo que o jazz é superior ao rock - tb não partilho desta opinião. E nunca imaginei que vc já teve sua fase "rockeiro fritador"! rs. Quem diria...Michel tocando Malmsteen! Muito legal (apesar de eu não curtir muito o som dele...hehehe).

Lendo esse post sobre sua fase rockeira e sua opinião sobre o rock, não pude deixar de lembrar-me de um episódio que me aconteceu num show de jazz...eu estava aguardando o início do show e conversava com 3 caras sobre guitarristas. Eles falaram: "Conhece o Michel?" eu: "Claro que conheço!" eles: "Então como vc pode gostar de guitarristas de rock? Vc precisava ver um workshop do Kiko Loureiro na EM&T...o Michel humilhou o cara! Ficava lá fora com os amigos só rindo da cara do Kiko." eu: "Como assim?" eles: "É verdade! Os caras feras como o Michel não respeitam esse bando de guitarristas de rock que tocam como robôs fritadores! E estão certos!"
Limitei-me a responder: "Isso não é verdade."

Veja como são as coisas...se eu fosse desinformada, pensaria que vc é um chato-mor! rs ^^...mas os caras não conseguiram me convencer, obviamente.

Beijos,

Adoro seus posts!

Jenny.

Michel disse...

Obrigado por ler, Jêh.

Quanto à historia da conversa com os garotos: já trabalhei com o Kiko por diversas vezes e rola um respeito mútuo e uma vontade recíproca de que o outro se dê bem sempre que é muito maior do que qualquer boato.
Seu sexto sentido estava certo!

Fique em contato.
Um abração,
Michel

Ricardo Alpendre disse...

You sonofagun é um escritor de primeira, hein, Michelino? Valha-me Deus!

Michel disse...

Grande Cadinho!
És un crooner mui generoso!
Um grande abraço,
Michel