sexta-feira, 22 de junho de 2007

Influências (parte I)


Minhas primeiras influências musicais foram basicamente três - e todas ao mesmo tempo:

- a música brasileira: chôros, catiras, valsas, "tangos" (no interior de São Paulo tinha um ritmo chamado assim, nada a ver com o tango argentino), etc. Essa fonte musical veio diretamente do meu querido avô, pai de meu pai, Durvalino Leme (1905-2000). Ele estava aposentado e ficava tocando a tarde toda em seu violão preferido (o Del Vecchio da década de 40 que está comigo hoje). Ele tocava músicas de sua época de garoto e compunha também - tem várias músicas dele na minha memória. E eu ficava lá, rodeando e ouvindo. Quando ele parava de tocar, eu ficava tentando fazer algo com o violão, mas só saiam ruídos. Vendo meu avô tocar, tudo parecia tão fácil... De vez em quando, ele (que tinha o mais alto respeito dos músicos que o conheciam) reunia um grupo de amigos e faziam um som com dois violões, percussão e até sanfona. Isso tudo acontecia em sua sala de estar na casa da Vila Santa Izabel - bairro que fica entre a Vila Formosa e a Vila Carrão, Zona Leste de Sâo Paulo - onde vivi desde que nasci até os 22 anos. No CD 'Umdoistrio', a música "Santa Izabel" homenageia essa época maravilhosa.

- o rock'n'roll: minha mãe conta que, antes de eu começar a falar, eu ficava ouvindo um disco chamado "Beatles Again". E quando a vitrola estava desligada, eu ficava rodando o disco com minha mão pra ouvir - fato que meus irmãos adoravam, já que eu riscava não só esse, mas qualquer disco que ficasse dando bobeira na sala. Uma das primeiras músicas que cantei foi "Love Me Do", desse disco "Beatles Again". Eu sempre via meu irmão tocar também, o Mauro. Cresci indo aos seus ensaios e esperando a hora de poder tocar um pouco de baixo nos intervalos. Eu adorava o baixo! Me lembro que eu ficava tocando alguns riffs tipo "Black Dog" e os caras achavam muito legal, porque eu só tinha uns sete anos... Meu irmão me apresentou Jimi Hendrix, Led Zeppelin, bandas que eu gosto até hoje. Me lembro que uma vez ele me disse "esse som é muito pesado". Era "Symptom of The Universe" do Black Sabbath. Eu não acreditei, aí eu devia ter uns oito anos. Uma história que lembramos outro dia: meu irmão estava tocando num baile na Sociedade Vila Santa Izabel e houve um problema com o baixista no meio do som. Não me lembro o que rolou. Mas ele me disse "pega o baixo aí e vamos tocar!" E fiz um belo período do baile tocando o baixo, e me lembro que foi uma experiência extasiante! Eu devia ter uns sete anos ainda. Essas coisas ficam marcadas pra sempre.

- a música clássica: meu pai, Maurindo Leme (1933-1998), estudou violino durante oito anos em conservatório. Sabia ler e escrever música, assim como minha mãe, que estudou piano e acordeon por uns dois anos cada. O gosto de meu pai era, predominantemente, clássico. Ele ouvia Bach, Beethoven, adorava Paganini e Mozart. E eu ouvia isso tudo, absorvendo por osmose. Ele comprava os discos e ficava ouvindo na sala de estar do meu avô, onde havia mais silêncio. Teve um disco que ele ganhou com árias de óperas famosas que quase furou... A música dita clássica ou erudita me fascina desde então. Minha relação com ela sempre foi mais como ouvinte, mas considero importantíssimo e decisivo esse contato.

Com oito anos, decidi que era hora de aprender violão de verdade. Eu não agüentava mais pegar o violão e não conseguir tocar nada. Então, meu avô Durvalino me disse: "se você aprender estas primeiras seqüências, vou te dar um violão pequeno." Depois de pouco tempo, após aprender as "seqüências de C, de D e de G", já ganhei o pequeno violão "Rei" que tenho até hoje. Depois disso, ele disse "se você conseguir me acompanhar nestas músicas, te dou um violão maior, um Di Giorgio que compraremos na fábrica". Fiquei doido! Me dediquei muito e, depois de alguns poucos meses, estávamos indo para a loja da Di Giorgio no Largo São Jose do Belém. Era um Di Giorgio Estudante, n.º18. Que dia maravilhoso! Fomos eu, meu pai, meu avô e (acho que) meu irmão pra fazer a compra. Foi um verdadeiro acontecimento para mim! A partir daí, só parei de tocar depois da Copa de 1982, quando queria ser "boleiro"... E é claro, que um ano e pouco depois, voltei a tocar direto e o futebol perdeu um de seus centro-avantes mais banheiristas e preguiçosos. Logo na seqüência, ganhei uma guitarra Retson (que hoje está exposta numa galeria no Souza Lima) do meu cunhado e um pedal Sound com Distorção e Wha-Wha do meu irmão. Isso foi no Dia dos Pais, em 1984. Então, começou a fase totalmente Heavy Metal...

*foto: meu pai, meu avô Durvalino, meu irmão e eu.

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