quarta-feira, 14 de julho de 2010

Deu ontem no Estadão

ROGER MARZOCHI - Agência Estado

Poderia até parecer falta de imaginação: o novo disco do guitarrista Michel Leme, que será lançado amanhã, com show no Café Piu Piu, em São Paulo, foi batizado de "5º". Primeiro, porque é realmente o quinto trabalho instrumental do músico, que completa, agora em 2010, 20 anos de carreira. O número 5, para ele, não tem qualquer relação com numerologia, não há nada de transcendental no nome do trabalho. Mas, ao conversar com o músico, é possível perceber sua forte militância pela arte até as últimas consequências, fazendo um som que, muitas vezes, tem como objetivo provocar e inquietar.

"Quem toca nos locais glamourosos do jazz, muitas vezes faz um som morno, para que as pessoas continuem dormindo. Por ser também roqueiro, não nos elementos do rock, mas em sua intensidade, eu não curto coisas mornas. Não gosto do caráter docinho da música instrumental. A música pode ser muito mais ácida", afirma. Por isso, "5º" poderia ser visto quase como um programa político do jazz, que chega à sua quinta eleição nesses 20 anos de carreira. "Mas não é uma bandeira política. Isso é uma questão de sobrevivência. Se você não faz um lance em que você acredita, ferrou tudo. Quando estou tocando, pressupõe-se que minhas contas já estão pagas, com minhas aulas. Quando toco, não digo amém para mais ninguém, só para a música. É uma forma de manter a sanidade mental", diz o músico, que já tocou com o baterista Nenê e com Gary Willis, Michael Brecker, Toninho Horta, Lee Konitz e Joe Lovano. Neste ano, também participa dos discos lançados agora de Arismar do Espírito Santo ("Batuqueiro") e de Bruno Migotto ("In Set") .

Para gravar o "5º", ligou uma semana antes para o baterista Bruno Tessele. Logo em seguida, para Waguinho Vasconcelos, também baterista. Não que estivesse na dúvida sobre com quem tocaria. Na verdade, ele queria os dois, juntos, na companhia do contrabaixista Migotto. "Eu queria fazer isso há um tempo! O Bruno Tessele estava na área, o Waguinho também. Liguei, falei da ideia, e eles deram aquela pausa no telefone, mas aceitaram. Eles se conheceram na hora do ensaio, não rolou nenhum combinado", lembra o guitarrista, que prefere não ensaiar antes de shows para manter o espírito da improvisação. O que ocorrerá também amanhã, pela falta de um dos músicos que participou da gravação do disco. Migotto está participando do Festival de Música de Londrina e, para o show de amanhã, Leme convidou Richard Metairon, também seu parceiro há dois anos.

O disco reúne seis músicas, das quais uma, "Aos Poucos", foi composta por Migotto. Na primeira faixa, de cara entra "Deixem o Coltrane em Paz". Assim mesmo, sem ponto de exclamação, porque apesar do título, é ao mesmo tempo uma homenagem ao saxofonista John Coltrane e uma busca de "abrir o leque". "Todos os músicos sempre citam o Coltrane. Ele é um exemplo de várias coisas, mas ao mesmo tempo, digo: deixe o cara em paz, vamos abrir o leque. Essa música tem um pedacinho, muito pequeno, de ''Afro Blue'', mas numa forma diferente. Minhas influências não são de guitarristas, eu escuto muito saxofonistas e trompetistas, jazz, música erudita", diz. "Afro Blue" é do percussionista cubano Mongo Santamaria, tão intensa quando a sua interpretação feita por Coltrane.

Se "Deixem o Coltrane em Paz" é uma provocação, na busca de novos "portais" na música, "Samba dos Excluídos" é um manifesto para inquietar. "Essa música estava na minha mente há um bom tempo, mas demorou para eu conseguir colocar notas próximas àquela ideia abstrata", explica. "É uma indignação, de ver tantas pessoas excluídas. Não vivemos em democracia, é só no rótulo." Por isso, é um samba jazz ácido, "com certa fúria", explica. "A intensidade não tem estilo, mas urgência de dizer as coisas. Existe um tipo de resgate do choro, por exemplo, mas parece que quando os queridinhos da música instrumental fazem isso, parece que tocam uma música de museu. E eu não sou o queridinho, e não vou ser até os 60 anos. Porque quando você fica velho, parece que os caras ficam simpáticos. Eu faço as coisas do jeito que acredito que devam ser."

Lançamento do disco "5º" - Com Michel Leme, Richard Metairon, Bruno Tessele e Wagner Vasconcelos. Amanhã (14), às 21h. Café Piu Piu (Rua Treze de Maio, 134). Entrada: R$ 10. Informações: (011) 3258-8066.


Link para a matéria: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,michel-leme-lanca-amanha-o-album-5-em-sao-paulo,580595,0.htm

7 comentários:

Anônimo disse...

E AI BROTHER, ESSA MATERIA VEIO PARAR NO JORNAL DIARIO DA MANHA , AQUI EM GOIANIA.

FOI BOM SABER QUE O SEU SOM , E O CD 5 ESTA ROMPENDO AS FRONTEIRAS DO CERRADO BRAZUCA. ABR ADRIANO

Anônimo disse...

E AI BROTHER, ESSA MATERIA VEIO PARAR NO JORNAL DIARIO DA MANHA , AQUI EM GOIANIA.

FOI BOM SABER QUE O SEU SOM , E O CD 5 ESTA ROMPENDO AS FRONTEIRAS DO CERRADO BRAZUCA. ABR ADRIANO

Michel disse...

Valeu, Adriano!
Muito legal.
Quebra tudo ae!
Abração,
Michel

Vagner Pitta disse...

Finalmente, alguem do jornal está atento para nossa música instrumental - talvez por causa dos tantos holofotes da mídia alternativa, que realmente encherga o valor da arte na música instrumenta, os apelos dos blogs, os podcasts, os sites e portais alternativos...E não vamos relaxar: se eles nao quiserem mostrar, protestemos e fazemos nossa parte mesmo assim!!!


Michel, cara, tenho muito que aprender...mas um lance pelo qual sempre fiquei apreensivo aqui no Brasil -- desde que comecei a ouvir jazz e música instrumental -- é pelo nascimento, realmente, de músicos que fugissem dos padrões da música tradicional, daquela bossa melosa, ou daquele choro nostálgico, esses resgates que mais cristaliza a música, que mais resulta em versões pasteurizadas do que impõe uma evolução natural (como aconteceu e acontece com o jazz norte-americano): ou seja, em resumo, precisamos de lotar o cenário de músicos que acreditem que somos capaz de fazer uma música instrumental brasileira de carácter contemporâneo e progressista. O que eu quero dizer não tem nada a ver com renegar nossas tradições, mas sim usá-las pra fazer uma música que soe nova e desafiadora. E seu disco "5º" e o "In Set" de Migotto sintetiza bem essa idéia do músico contemporâneo que devemos ter.


Parabéns pelo estilo único de tocar guitarra. Parabens pelo trabalho e sucesso. Que sua música ressoe além das fronteiras previstas e imagináveis!

Caio Garrido disse...

Parabéns meu caro!

O cd Batuqueiro já saiu?
to esperando-o....

Abrs!

Michel disse...

Valeu, Caio!
Eu também estou esperando esse CD sair! Apareça nos sons enquanto isso, quando puder.
Abração e muito som,
Michel

Michel disse...

Obrigado, Vagner.

Esse é o espírito! Vamos nessa.

Abração,
Michel